sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

DELINQUENCIA FINANCEIRA E CONTRAFACÇAO PARTIDÁRIA

O neoliberalismo económico, a delinquência financeira e o compadrio ou irresponsabilidade política colocaram este mundo globalizado à beira do abismo.
A especulação foi tomando dimensões nunca antes registadas e os Off-Shores (paraísos fiscais) foram proliferando e engordando com a conivência dos Poderes instituídos, ainda que altamente lesivos para a Humanidade.
Em Portugal, a banca tremeu. Mas foi sobretudo no BCP, no BPN e no BPP que a crise mais se fez sentir, mercê de uma gestão irresponsável e fraudulenta: altíssimos vencimentos, injustificados prémios, empréstimos a fundo perdido, rios de dinheiro a volatilizarem-se...
O Estado foi chamado a intervir. A Caixa Geral de Depósitos (em que uns tantos cuspiam, chegando mesmo a reclamar a sua privatização), tornou-se o meio de socorro, injectando nesses bancos vários milhares de milhões de euros. Dinheiro dos fiéis depositantes desta Instituição Bancária, que não foram atrás de anunciados juros tentadores... Porque, lá diz o Povo: "Quando a esmola é grande, o pobre descomfia"... ou "Quem tudo quer, tudo perde". Mas a ganância é cega! E cegou mesmo... Os que perderam o dinheiro e os que dele abusaram e o volatilizaram impunemente. Em alguns casos, a falência seria a consequência pedagógica para irresponsabilidade de uns e a ganância de outros, pois sabiam muito bem que, nessa roda, para alguns ganharem, há muita gente a perder. Assim como na Bolsa.
Entretanto, os Off-Shores continuam a proliferar e a engordar. Como se nada tivesse acontecido.
Continuam os administradores, os gestores, consultores (e mais uns quantos engravatados terminados em "ores") a delapidar os bancos, as seguradoras, as empresas públicas e privadas, o próprio Estado, num continuado abuso de confiança. Em escandalosos salários, injustificados prémios e imorais (multi)reformas, muitas delas mungidas por uma só mão em várias tetas da "Vaca" por que tomam o Estado - que respira dos impostos de todos nós!
Vemos já os novos VIPs - Vigaristas, Impostores e Parasitas exibirem-se por jantares e chãs de "caridade"; por palanques e tribunas. Gente que não mexe uma palha, não sabe de onde sai um ôvo, quanto custa um quilo de arroz carolino... Mas veste bem, com etiqueta estrangeira; e assim se passeia em revistas e programas televisivos inqualificáveis...
Tudo isto, em Portugal, se tornou novamente possível e é "modus vivendi"...
Onde referências? Onde exigência de ética?
Com uma ou outra excepção, temos uma classe política que não emerge naturalmente de um percurso universitário sério nem de uma vivência laboral profícua, desejando servir a Causa Pública com espírito de missão, mas sim como produto da "contrafacção" partidária. Medíocre, inculta, intelectualmente desonesta, mais propensa à trapaça do que à lisura, tenta assegurar pelo poder ou em seu redor, num curto espaço de tempo (e quantas vezes num simples golpe de asa...), o que pelo trabalho honesto jamais conseguiria. Confunde privilégios que despropositada e imoralmente se atribui com "direitos adquiridos" que, para sustentar, torna ainda mais penosa, incerta e quantas vezes infernal a vida dos que sempre - única e honradamente! - ganharam o pão com o suor do seu rosto
.
Sobre esta matéria, já nos anos 40 do século passado escrevia Padre Américo:
(...) "a ordem social exige que todos quantos têm seus rendimentos se obriguem, em consciência, a gastá-los bem, com economia, na roda do ano: distribuir, auxiliar, consumir, dar aos que se não podem bastar. E este mínimo de coisas todos têm obrigação de compreender e de praticar. Porque é verdadeiramente criminoso todo aquele senhor que ao capital que rende vai juntar os juros desse mesmo capital.
Amarrar assim, de pés e mãos, o direito das classes pobres ao pão-nosso-de-cada-dia, é semear no seio deles: lágrimas, fome, miséria e, por fim, o desespero."
(...) "Dizem que o macaco fecha a mão e que não larga o que tem, a menos que lha cortem; e outrossim dizem que o homem descende do macaco!?
Bem podias repartir os teus anéis, em boa paz. Podias e devias; mas não queres; por isso ficarás sem eles e sem os dedos, em guerra."
(Padre Américo, - fundador da Obra da Rua, em Pão dos Pobres, 1.º Vol.)

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