terça-feira, 7 de junho de 2011

ESPERA

ESPERA

Penso, às vezes, que vens de autocarro...
Corro à paragem
-Não desceste
Fico
À espera de outro e enquanto

Espero
Conto
Até cem e outro vem e - nada!
O ciclo

Recomeça no filtro do cigarro.

Penso. às vezes, que vens no autocarro.

E se vens no comboio?...

Na estação de São Bento
Mói a esperança
Por dentro e deito à sorte:
Vens na linha do Minho?
Na do Douro?
Ou na linha do Norte?


Seja a locomotiva
A gasóleo ou a vapor,

O que importa é que chegues, meu Amor!

Porto, Maio de 1981 - Santos Kim

quinta-feira, 26 de maio de 2011

AO JEITO DE BIOGRAFIA

"AO JEITO DE BIOGRAFIA







Para aquele meu Amigo


Que ama a Serra com paixão

Alguém onde se pressente

Uma alma de eleição

Aquele Homem que reparte

As fatias do seu pão

Com amigos verdadeiros

Esse que virou serrano

Por amor ou por opção

Que encharca as pernas e os pés

No rigor dos aguaceiros

Que ama papoilas e lírios

Vales, encostas, ribeiros

Que aos mais fracos dá ajuda

Solidária e verdadeira

E aos amigos que tombaram

Manda flores de ameixeira...






Eis o grande privilégio

De ter amigos assim

Como este - em quem me revejo

O meu amigo Joaquim."





Isaura Moreira (ISA) - 25 de Maio de 2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A IMAGINAÇÃO

A IMAGINAÇÃO

A imaginação
É o único transporte
Que temos sempre à mão:
Num segundo
Dá a volta à vida,
Dá a volta ao mundo...

Maio de 2011 - Santos Kim

quarta-feira, 18 de maio de 2011

PAPOILAS E CEREJAS

PAPOILAS E CEREJAS

Avermelhando o campo, ondulam as papoilas.
Olhando para cima,
Ei-las,
Vermelhas entre o verde da folhagem - as cerejas!
Que bem sabe comê-las
Sentado numa pedra

Ou caminhando pela rua,
Nem que, depois,
Se limpe a boca à manga da camisa...

Com Maio na algibeira

E papoilas e lírios ladeando a estrada,
Um livro e uma mancheia de cerejas
São tudo o que preciso para estar com a minha amada.



Maio de 2011 - Santos Kim

NA ESTRADA, MEU IRMÃO

Chegou-me, triste e embargada, a notícia:
- Tio Quim, o tio António... sabe... não sei como lhe dizer... deixou-nos... Encontraram-no caído na estrada... supõe-se que de acidente.
Era a voz da minha sobrinha Idília, ao telefone.
O António... o meu irmão António...
De quatro, o irmão mais velho.
Ainda de tenra idade, calças remendadas e pés descalços, metera-se à estrada para S. João da Madeira, à procura de pão certo...
Passados muitos meses que eu não sabia contar, regressava de visita aos irmãos, de bicicleta em segunda mão.
Pegou-me ao colo:
- É paz (era a abreviatura de rapaz)!, trabalho numa serração a segurar uns troncos pesados que uma serra grande corta em tábuas.
Acabaria por comprar uma bicicleta nova e, muito mais tarde, uma motorizada que se esmerava a limpar.
- É paz!, com esta já não preciso de dar aos pedais!
E levou-me a dar uma volta.
Mas pedalou sempre. Por duros anos, em toda a sua vida. Depois da serração, na fábrica de borracha, até à magra reforma.
Para as horas livres, trazia de renda duas leiras, donde tirava as batatas e as couves e o feijão e as abóboras para a mesa, e para alimentar o porquito, que matava pela Nossa Senhora dos Pardais.
- É paz!, a vida é mesmo assim... Tu foste pró colégio. É certo que te arrancaram de ao pé de nós e choraste muito nos primeiros tempos, mas estudaste. A minha escola, paz!, fi-la entre o serrim e as casqueiras de pinheiro e de eucalipto. Foi mesmo assim, paz!
Sim, António, a vida era assim mesmo - duríssima!
Saíste de casa de calças rotas e descalço.
E desde então, sempre a pedalar... Mesmo quando já a motorizada te levava.
A estrada onde tanto pedalaste, essa mesma te amorteceu na queda e te deu o último abraço.
A estrada, António!...
A estrada que te levava e te trazia, naquele dia levou-te para nunca mais.
Todas as flores que encontrar na estrada, vou apanhá-las para ti, meu irmão.

11 de Maio de 2011





C H U V A









C H U V A







Meus cabelos são o telhado,

Minha testa

É o beirado de mim;

Meus olhos, duas janelas

E é por elas

Que vejo chover assim...






Meus braços são ramos de árvore

Vergados como craveiros.

Encharco as pernas e os pés

No rigor dos aguaceiros.






Quatro Lagoas, Maio de 2011 - Santos Kim







segunda-feira, 16 de maio de 2011

CEREJAS






C E R E J A S





Duas cerejas

Unidas por um só caule

Trocaram de posição

E recurvam, para que vejas

A forma dum coração.



Maio de 2011, Santos Kim