sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ESTATUTO E PAPEL

Em Portugal, há exemplos de salutar cidadania que, na simplicidade do quotidiano, heroicamente e quase contra a corrente, continuam criando riqueza para o país, dignificando o sustento de quem honradamente trabalha e reinvestindo a mais-valia, mantendo assim o dinheiro no ciclo da vida económica, donde nunca outro (de outra gente...) deveria ter saído.
Gente assim, mai-la que, no Voluntariado, vive de mangas arregaçadas para acudir à Fome e à Dor, deveria encabeçar de corpo inteiro as notícias, para que outra gente, de gravata e verbo fácil, tomasse exemplo dos que são verdadeiramente dignos de menção - aqueles para quem o estatuto social não só não se sobrepõe como importa menos do de o relevante papel na Comunidade.
A estes, sim, tiro o chapéu!

Quatro Lagoas, Novembro de 2010 - Santos Kim

domingo, 14 de novembro de 2010

COMBOIOS DE PORTUGAL


COMBOIOS DE PORTUGAL


Linhas do Norte, do Sul,

Douro, Minho, Beira-Alta,

Da Beira-Baixa, do Oeste,

Da Póvoa, Sintra, Cascais...

Ramais do Corgo, Sabor,

Vouga, Figueira, Lousã,

De Tomar e outros mais...


Comboios de Portugal!


Entre malas e abraços,

Livro na mão ou jornal,

Dos que chegam aos que vão,

Tantas viagens de sonho!

Outras tantas de tristeza

Em busca de amargo pão.


Por entre malas e abraços,

Livro na mão ou jornal,

Por este país inteiro

Sois parte do meu roteiro,

Comboios de Portugal!


Novembro de 2010 - Santos Kim


CAPACIDADE POPULAR


CAPACIDADE POPULAR...



O almude

É avô do meio-litro,

Tio do meio-quartilho,

Primo do copo-de-três...

O garrafão,

Com cinco filhos de litro,

Esse é mesmo português!



Novembro de 2010 - Santos Kim

domingo, 7 de novembro de 2010

A MINHA RELAÇÃO COM A MÚSICA

Gostei de ler na Wikipédia o conceito de "Música clássica e música erudita".
Coloquei-me a interrogação por me lembrar de um programa em "Histórias da Música", de António Vitorino de Almeida.
Na abordagem ao assunto, o maestro optava por "Música Erudita" em detrimento de "Música Clássica". Já não me lembro da argumentação que utilizou, mas achei-a pertinente e tomei em consideração.
Ora eu, de música, gostando muito, nada sei.
Em dois anos, sob a batuta do maestro Gama Lobo, aprendi solfejo, passei os dedos pelas teclas dum órgão electrónico, mas queria era aprender a tocar viola.
Jovem ainda, estava então por Benguela e imaginava-me sentado no muro ao longo da linda Praia Morena, dando os acordes à "The Rhythm Boys", conjunto de Benguela muito solicitado, o melhor de Angola e (à época) quiçá de Portugal.
Amigo de carteira na Escola Comercial, tinha o privilégio de aceder aos ensaios. À medida que se empolgavam, também eu estendia o braço esquerdo e dedilhava na barriga, batendo o pé e abanando a cabeça.
Até que me decidi dedilhar as cordas em viola emprestada; nelas sulquei a cabeça dos dedos e parti três cordas... Resultado: meti a viola ao saco!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CARTAS DO ESTADO E POSTAIS DO HOSPITAL


Vindo do bulício citadino de Gaia/Porto para a Casa das Eiras, da Serra do Pilar para a Serra do Rabaçal, redescobri o prazer de me sentar à soleira da porta.
À passagem dos rebanhos, já as ovelhas se abeiram de mim, enquanto os pastores tiram o chapéu para me cumprimentar.
Às vezes, a outras horas, vêm bater à porta ou badalar a sineta, para lhes explicar o que quer dizer uma ou outra carta recebida do Estado, invocando decretos-lei e portarias, quase sempre para fazê-los descer à burocracia dos balcões na vila de Soure ou em Coimbra; não raro, para os ajudar a escrever uma carta em resposta.
Outras vezes, quase pedindo desculpa pela modéstia, para oferecer um molho de grelos, um queijito feito em casa, um coelho já preparado a cozinhar, um cesto de figos, um garrafão de vinho tAdicionar imagemirado do seu pipo... E se não estou em casa, deixam discretamente no alpendre o que não precisa de frigorífico.
E quantas vezes vêm flitos, por terem recebido postal para consulta ou internamento no hospital de Coimbra, mas sem dinheiro nesse mês para chamar o táxi... Enquanto, de voz embargada, o vão dizendo, começam a rolar-lhes algumas lágrimas pela cara crestada de uma vida inteira de labuta no campo. Ouvindo com respeito e avaliando a sua aflição, vai-se em mim apertando um nó na garganta...
De volta e já medicados, sinto-me reconfortado.
Deixo-os em casa, mas trago uma grande revolta interior:
- Injustas e humilhantes Taxas Moderadoras pesam sobre esta honrada gente! Quem habita o palácio de São Bento tão pouco sabe do Povo que governa e do país em que vive!...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

SE ALGUÉM VOS PERGUNTAR QUEM SOU



Se alguém vos perguntar quem sou,
Dizei
Que sou
Aquele citadino que virou serrano,
Aquele que mistura
Tomilho, trigo e alecrim
Com amizade e esperança,
E reparte fatias deste pão
Como se colocasse
Um pião a girar na mão duma criança.

Novembro de 2010 - Quatro Lagoas - Santos Kim