sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ESTATUTO E PAPEL

Em Portugal, há exemplos de salutar cidadania que, na simplicidade do quotidiano, heroicamente e quase contra a corrente, continuam criando riqueza para o país, dignificando o sustento de quem honradamente trabalha e reinvestindo a mais-valia, mantendo assim o dinheiro no ciclo da vida económica, donde nunca outro (de outra gente...) deveria ter saído.
Gente assim, mai-la que, no Voluntariado, vive de mangas arregaçadas para acudir à Fome e à Dor, deveria encabeçar de corpo inteiro as notícias, para que outra gente, de gravata e verbo fácil, tomasse exemplo dos que são verdadeiramente dignos de menção - aqueles para quem o estatuto social não só não se sobrepõe como importa menos do de o relevante papel na Comunidade.
A estes, sim, tiro o chapéu!

Quatro Lagoas, Novembro de 2010 - Santos Kim

domingo, 14 de novembro de 2010

COMBOIOS DE PORTUGAL


COMBOIOS DE PORTUGAL


Linhas do Norte, do Sul,

Douro, Minho, Beira-Alta,

Da Beira-Baixa, do Oeste,

Da Póvoa, Sintra, Cascais...

Ramais do Corgo, Sabor,

Vouga, Figueira, Lousã,

De Tomar e outros mais...


Comboios de Portugal!


Entre malas e abraços,

Livro na mão ou jornal,

Dos que chegam aos que vão,

Tantas viagens de sonho!

Outras tantas de tristeza

Em busca de amargo pão.


Por entre malas e abraços,

Livro na mão ou jornal,

Por este país inteiro

Sois parte do meu roteiro,

Comboios de Portugal!


Novembro de 2010 - Santos Kim


CAPACIDADE POPULAR


CAPACIDADE POPULAR...



O almude

É avô do meio-litro,

Tio do meio-quartilho,

Primo do copo-de-três...

O garrafão,

Com cinco filhos de litro,

Esse é mesmo português!



Novembro de 2010 - Santos Kim

domingo, 7 de novembro de 2010

A MINHA RELAÇÃO COM A MÚSICA

Gostei de ler na Wikipédia o conceito de "Música clássica e música erudita".
Coloquei-me a interrogação por me lembrar de um programa em "Histórias da Música", de António Vitorino de Almeida.
Na abordagem ao assunto, o maestro optava por "Música Erudita" em detrimento de "Música Clássica". Já não me lembro da argumentação que utilizou, mas achei-a pertinente e tomei em consideração.
Ora eu, de música, gostando muito, nada sei.
Em dois anos, sob a batuta do maestro Gama Lobo, aprendi solfejo, passei os dedos pelas teclas dum órgão electrónico, mas queria era aprender a tocar viola.
Jovem ainda, estava então por Benguela e imaginava-me sentado no muro ao longo da linda Praia Morena, dando os acordes à "The Rhythm Boys", conjunto de Benguela muito solicitado, o melhor de Angola e (à época) quiçá de Portugal.
Amigo de carteira na Escola Comercial, tinha o privilégio de aceder aos ensaios. À medida que se empolgavam, também eu estendia o braço esquerdo e dedilhava na barriga, batendo o pé e abanando a cabeça.
Até que me decidi dedilhar as cordas em viola emprestada; nelas sulquei a cabeça dos dedos e parti três cordas... Resultado: meti a viola ao saco!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CARTAS DO ESTADO E POSTAIS DO HOSPITAL


Vindo do bulício citadino de Gaia/Porto para a Casa das Eiras, da Serra do Pilar para a Serra do Rabaçal, redescobri o prazer de me sentar à soleira da porta.
À passagem dos rebanhos, já as ovelhas se abeiram de mim, enquanto os pastores tiram o chapéu para me cumprimentar.
Às vezes, a outras horas, vêm bater à porta ou badalar a sineta, para lhes explicar o que quer dizer uma ou outra carta recebida do Estado, invocando decretos-lei e portarias, quase sempre para fazê-los descer à burocracia dos balcões na vila de Soure ou em Coimbra; não raro, para os ajudar a escrever uma carta em resposta.
Outras vezes, quase pedindo desculpa pela modéstia, para oferecer um molho de grelos, um queijito feito em casa, um coelho já preparado a cozinhar, um cesto de figos, um garrafão de vinho tAdicionar imagemirado do seu pipo... E se não estou em casa, deixam discretamente no alpendre o que não precisa de frigorífico.
E quantas vezes vêm flitos, por terem recebido postal para consulta ou internamento no hospital de Coimbra, mas sem dinheiro nesse mês para chamar o táxi... Enquanto, de voz embargada, o vão dizendo, começam a rolar-lhes algumas lágrimas pela cara crestada de uma vida inteira de labuta no campo. Ouvindo com respeito e avaliando a sua aflição, vai-se em mim apertando um nó na garganta...
De volta e já medicados, sinto-me reconfortado.
Deixo-os em casa, mas trago uma grande revolta interior:
- Injustas e humilhantes Taxas Moderadoras pesam sobre esta honrada gente! Quem habita o palácio de São Bento tão pouco sabe do Povo que governa e do país em que vive!...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

SE ALGUÉM VOS PERGUNTAR QUEM SOU



Se alguém vos perguntar quem sou,
Dizei
Que sou
Aquele citadino que virou serrano,
Aquele que mistura
Tomilho, trigo e alecrim
Com amizade e esperança,
E reparte fatias deste pão
Como se colocasse
Um pião a girar na mão duma criança.

Novembro de 2010 - Quatro Lagoas - Santos Kim

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

AGORA...


Agora,

que tornaram as praias

à calma das às gaivotas e à espuma

das ondas borbulhando entre seixos e conchas;

Agora,

que posso caminhar descalço pelo areal

à procura dum búzio que devolva

a voz de espanto

da criança que fui

querendo, balde a balde, despejar o mar

naquela poça que cavei com as mãos na areia;

Agora

que o vento mais fustiga as velas dum veleiro

do que os choupos do rio

que atravessa a minha aldeia;

Agora...

agora é que eu descubro

quantos mistérios vão a transportar

no porão dum navio

e quanto é fundo o mar...

sábado, 9 de outubro de 2010

DO CAMELO AO MIRAGE

De alguns milhões com tudo aos biliões sem nada,
Da nudez do taipal à cor do manifesto,
Refastela-se a besta, impondo que amestrada
Se limite a formiga a contornar o cesto...

Que o sol aqueça o toldo, o rótulo presida
Ao riso, o trigo falte e sobre a gasolina,
Venha a central do juro e atenta se decida
Renovar a cidade em filiais de esquina...

Amor que em dar exija os lábios confundir
Ou, precisando mais (e não te surpreendas),
Seja ir daqui além, buscando reunir
Certo botão de punho a rendas e fazendas...

Tanto que a pouco saiba e se pretenda a lua
Pelo sim pelo não apenas sorridente
E se imagine loura e se apresente nua
Capaz de promover o novo detergente...

Que depois venha agora e sempre antes de já
E amanhã chegue ainda a tempo de esquecer
A fome de milhões c'os milhões que ainda há
Para ferir de morte o direito a viver...

Do cotovelo à dor passando pelo busto
Seja a virtude mãe do mais secreto ultraje
E cheguem sempre os réis às cinzas do magusto
na bossa dum camelo, a bordo dum mirage...

Do celeiro ao paiol arado se transforme
Em ás de artilharia, o submarino avance,
Venha o neutrão depois e fique a noite enorme
Até que finalmente o carnaval descanse...

Por que será, meu Deus!, que tem de ser assim:
De Terça-Feira-Gorda a Sexta-de-Paixão?
Será que a Tua mão a isto porá fim?
Eu quero crer que sim!, mas receio que não!

Coimbra, Outubro de 2010 - Santos Kim

sábado, 18 de setembro de 2010

BREVES - I - Santos Kim

Quantas vezes me acho aquém
De quem
Verdadeiramente sou!
Outras tantas me acho além
De mim...
Vivo nesta oscilação...
O ser humano é assim.
17.9.2010 - Santos Kim
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Já passei à tua porta
À desse mar de ilusão...
Percorri o paredão
Olhando a espuma das ondas,
Gaivotas esvoaçando
Anunciando que vinhas.
Por momentos pressenti...
Mas ver-te... ver-te, não vi.
17.9.2010 - Santos Kim
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Eu não sei falar de amor;
Escrever, menos ainda!
Navego pelos sentimentos,
Mas não caio na berlinda...
14.9.2010 - Santos Kim
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Vai Setembro a mais de meio,
A chuva ensaia a passada,
A terra a molhado cheira.
Já se desfolha na eira,
Com as maçãs por colher,
As nozes por apanhar,
As vindimas por fazer...
Vamos, malta, toca a andar!
Está o celeiro por encher!
21.9.2010 - Santos Kim
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(OBESI)NECESSIDADE

Quanto mais come,
Mais chama a si o Pão dos outros...
Quem dera estourasse já!
Talvez assim amanhã
O Pão chegasse para todos!
21.9.2010 - Santos Kim

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

PAÇO DE SOUSA - RIO SOUSA

MUNDOS DO MEU MUNDO
- POR ENTRE CAMPOS DE MILHO, ATÉ AO RIO SOUSA.

Pelas tardes quentes de Setembro, corríamos por um caminho ladeado de campos de milho, chegávamos ao rio Sousa e dávamos uns bons mergulhos nas límpidas águas do açude.
Colhíamos, depois, um cacho de uvas dos muitos que, pelos choupos em vinha de forcado, toda a tarde nos tentavam...
Havia um produto que, para nos dissuadir, os proprietários espargiam pelos cachos e que a gente, passados alguns minutos de os comer, tinha que apressar a ida ao milheiral para se aliviar...
Recompostos, logo aos demais informávamos:
- Eh malta!, as uvas têm caga-já!
E logo todos à uma:
Carago pró carago!

O rio Sousa continua lindo!
Serpenteando todo aquele vale, desde Friande até ao rio Douro, às portas de Gondomar.
Mas é em Paço de Sousa que faz a sua sesta (aconchegado pelo Mosteiro onde jaz Egas Moniz e pela linda Aldeia do Gaiato, onde jaz o Padre Américo, fundador da Obra da Rua, personagens ímpares de Portugal!)...
De repente, por entre choupos e amieiros, descreve algumas piruetas até Parada... Mas logo mete por ali fora! Rasga a penedia na Senhora do Salto e continua a correr, a correr... até chocar com o rio Douro, como na história que nos contavam de David contra Golias...
E quando o burgo portuense do rio Douro começou a fazer penico, foi o rio Sousa que começou a dar de beber à Invicta cidade do Porto.
Protejamos o RIO SOUSA!

Setembro de 2010, Santos Kim

POBREGUÊS

POBREGUÊS

Diante do mesmo espelho
Barbeia a mesma fadiga...
Qual formiga
Pelo grão
Tomam-lhe o peito por dentro
Furores da combustão.

Nos apertos do comboio
Ida-e-volta de tristeza
Na incerteza
De estação
Lê nos carris sem destino
Toda a magreza do pão.

De pedras e de capim
No pinho teve recado
Revoltado
Viu no cerco
Invadirem-lhe o quinteiro
Uns certos bichos do esterco.

Cavou terra
Viu navio
Ergueu ponte
Rasgou estrada
Dobrou a margem do rio
Furou a mina para... nada!

Setembro de 1982, Santos Kim


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

DO PAÍS DAS UVAS À PÁTRIA DO FOGUETÓRIO

Devemos pensar sempre pela nossa cabeça e não sombreados por bandeiras partidárias; votar em consciência e não pelo emblema partidário que em campanha eleitoral muito risonhamente tentam colar-nos ao peito. E entre uma e outra votação, questionar, interpelar e, civicamente, manifestar a nossa indignação, sempre que nos sintamos desgovernados.
Que o País está em profunda crise, e bem mais grave do que nos fazem crer, ninguém duvide.
Que os partidos políticos são os maiores responsáveis, é indesmentível.
Que teimam em não reconhecer o desgoverno em que lançaram o Erário Público com a criação abusiva de organismos e mais organismos públicos para colocar as suas clientelas partidários mais uns ditos "independentes", está à vista de todos e é gravíssimo que se mantenham a sugar e delapilar a Fazenda.
Com a entrada de Portugal na UE - União Europeia (ao tempo, CEE), esperava-se um país com melhor qualificação na Escola, na Agricultura, no Mar, no Tecido Industrial.
Em vez disso, protegeu-se ilegítima e e despudoradamente a Banca e as Seguradoras e as grandes superfícies comerciais; pejou-se de hotéis e condomínios-fechados colinas, linhas-de-água, falésias e dunas... Abateu-se a Frota Pesqueira e desmantelou-se a Marinha Mercante; em contrapartida, pejou-se de marinas quase tudo quanto é cidade e vila na orla costeira... e com marinas vão já tomando também os rios e as albufeiras que são património de TODOS.
A par de tudo isto, mais, sempre mais betão e alcatrão pelo país fora e, por arrastamento, a prostituição, a droga, a corrupção institucionalizadas (...) como remedeio...
Eis o País que temos!
Com amargura o escrevo, porque sempre sonhei com um PORTUGAL melhor, mais justo, mais fraterno PARA TODOS.
Nada estará irremediavelmente perdido - BASTA QUERERMOS!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

SERRA DO RABAÇAL - POMBALINHO




Freguesia de POMBALINHO:
A freguesia de Pombalinho é a mais distante, para nascente, e uma das maiores do concelho de Soure.

Com 25,3 km2 e 1006 habitantes, Pombalinho ocupa uma vasta área da Serra do Rabaçal e tem em Quatro Lagoas o ponto de maior altitude (532 mts).

A sua área territorial estende-se pelos limites dos concelhos de Soure, Condeixa, Penela, Ansião e Pombal.

Aldeias que constituem a Freguesia de Pombalinho:
Casas Novas, Cabeça da Corte, Cotas, Fonte Velha, Malavenda, Malhadas, Pombalinho, Quatro Lagoas, Ramalheira, Sabugueiro e Vale Centeio.

Património Histórico:

Em 1141, em documento de Doação do Alvorge, já surge o mone de Pombalinho, que haveria de fazer parte das Terras da Ladeia.

Igreja Matriz; Pelourinho de 1783;

Ruínas do Palácio dos Almadas (destruído pelas Invasões Francesas), que foi abrigo de algumas das personagens mais importantes da nossa História;

Vestígios da Villa romana das DORDIAS, na aldeia da Fonte Velha;

Poços de origem árabe.


Nota: sobre a Aldeia de QUATRO LAGOAS, ver página com esse título.


quinta-feira, 1 de julho de 2010

QUATRO LAGOAS - Antiga rua principal, Capela de S. Domingos e Casa das Eiras.







A aldeia de QUATRO LAGOAS, ponto mais alto da Serra do Rabaçal, a 532 mts. de altitude, merece uma pausa por parte dos que visitam a serra.
A povoação beneficia da localização no início da suave encosta sul da serra, sendo banhada pelo sol durante todo o dia, o que lhe confere Outonos, Invernos e Primaveras suaves, e Verões bafejados pela brisa que do Oceano Atlântico lhe chega da quase vizinha Figueira da Foz (que do cimo da serra se avista, para lá dos arrozais do Mondego).

Além do carvalhal que se estente pelo planalto de Degracias a Pombalinho, passando por Quatro Lagoas (o maior da Península Ibérica), os seus campos são amenizados por seculares oliveiras, por nogueiras e figueiras. As suas gentes ocupam-se na pastorícia e agricultura de sequeiro e nas vinhas, que ultimamente vão ampliando e apurando em qualidade.
No Largo de São Domingos está a linda Capela de São Domingos. Tem festa e romaria no quarto Domingo de Agosto.
Nesta aldeia vêm sendo objecto de reabilitação algumas das suas antigas "casas de pedra caiadas", de que são exemplos a Casa das Eiras e a Casa do Tronco, entre outras, na que outrora foi a rua principal da aldeia. A Câmara Municipal de Soure vai correspondendo com a requalificação destes históricos arruamentos, dotando-os de calçada portuguesa e iluminação pública.
Pelas ruas passam os rebanhos para a serra e regressam ao fim do dia para a ordenha que dará
o excelente queijo Rabaçal.

Localização de Quatro Lagoas: Pertencendo à Freguesia de Pombalinho, Concelho de Soure, Quatro Lagoas é o ponto mais alto da serra do Rabaçal, no limite dos concelhos de Soure (18 km.), Condeixa (16 km.), Penela (8 km.) e Ansião (16 km). A 30 km de Coimbra, a 50 km de Leiria e 62 da Figueira da Foz; a 8 Km da N1 (IC2) e da A1; a 6 km do IC3 (Condeixa-Tomar).



AZURARA

AZURARA

Se me não lembra Azurara
Perco o menino que fui...

Perco o menio que fui...
Dele esqueço quem ficou
Se me não lembra Azurara
Nas areias que pisou...

Nas areias que pisou...
Da foz do Ave ao Mindelo
Se me não lembra Azurara
Corro o risco de perdê-lo...

Corro o risco de perdê-lo...
Menino sem tempo ou espaço
Que à falta de balde e pá
Brinquedo fez do sargaço...

Brinquedo fez do sargaço...
E das dunas fez abrigo
Viu traineira, viu farol
E comeu do pão de trigo...

E comeu do pão de trigo...
Dobrou o rio, subiu
À ponta do paredão
E depois ninguém o viu...

E depois ninguém o viu
Ir ao pinhal por pinhões
Fugir da sesta às enguias
Fartar-se de mexilhões...

Rolar nas ondas... cair
Assim como quem desmaia
Entre toda a porcaria
Que desagua na praia.

Azurara, Agosto de 1981 - Joaquim Santos Silva

quarta-feira, 12 de maio de 2010

FRONTEIRA - Um resumo

Entre pontas de cigarros,
sobras de arraial, vestígios
de suposta indigestão,
por doença ou desemprego,
sobre o lajedo da praça
joga-se o corpo e a desgraça
na tentativa do pão.

Envolta a boca em cieiro
que ranho e frio provocam,
ao pé - descalços! - os filhos
estendem a mão a quem passa
nuns gestos que já não tocam...

Por desemprego ou doença,
sobre o lajedo da praça
.................................................

E eu para aqui tentando a redondilha
na desgraça dos outros
- nesta! a que vejo! e que se mostra e clama!

Não se resume nisto a dimensão do drama...

NEM a paralisia se desloca!
NEM o antro se expõe p'las avenidas!
NEM o poder terá de enfrentar as crianças
em reivindicação de proteínas!
NEM os analfabetos se amotinarão
em frente das escolas!
NEM os cegos farão
sair dos bandolins cânticos de revolta
contra a caixa-de-esmolas!...

NADA DISSO! A fronteira
das privadas inquietações gerais
passeia-se no luxo dos casinos,
no fofo dos veludos,
na seda da gravata a decidir
os que hão-de miserar e os que hão-de progredir
nos duzentos à hora em auto-estrada
do livre instinto concorrencial...

- Para lá da fronteira é tudo bestial!

Gaia, Fevereiro de 1982 - Publicado em 1982 - Joaquim Santos Silva

terça-feira, 13 de abril de 2010

GONDARÉM - E A RESIDENCIAL KALUNGA



Na estrada de Caminha para Vila Nova de Cerveira, quase às portas desta, fica Gondarém, entre o rio Minho e a montanha, com a Ilha dos Amores ao pé (dizem que outrora foi ponto de passagem de pequeno contrabando de subsistência).
Verdejante, florida e fértil, Gondarém assenta perfeitamente no imaginário de quem ama e se dá bem no contacto com a natureza. Com alguns edifícios solarengos, calçada e muros de granito, em suave subida até ao Monte Calvário, vão-se os nossos olhos deleitando com quanto de belo tem a natureza para nos dar.
Junto ao Monte Calvário, o encantador recanto da Residencial Kalunga, em quinta harmoniosamente tratada, entre jardins, horta biológica e mata com densa e rica vegetação. A piscina num soberbo enquadramento, com vistas deslumbrantes para uma e outra margem do rio Minho; a Espanha do lado de lá, com Santa Tecla a mirar o mar e a ilha Ínsua! Tudo isto. E a simpatia, a delicadeza e a espontaneidade do Américo e da Olímpia, seus proprietários, a quem tenho como irmãos, não só dali como também de Paço de Sousa e de Benguela, por onde andámos juntos. (Lembro-me de ter passado uma longa noitada a fazer a salada de frutas para o almoço do vosso casamento, e a alegria de ajudar a servi-lo à mesa, tinha os meus catorze anos! É que foi o primeiro casamento a que, em consciência, assisti como se fosse de um irmão mais velho! E, depois, já por Benguela, acompanhei os primeiros passos do Paulo, que o Jorge e a Maísa nasceriam depois do meu regresso a Portugal).
No restaurante da Residencial Kalunga, os jantares-convívio dos Sábados, com fados, são um momento de verdadeira confraternização, até que o sono dê de si. Canta o Américo, "até que a voz lhe doa", canta a Fernanda Galamba, e vai o Jorge Rodriguez de Vigo até ali com a sua viola e a sua linda voz, e o Paulo também, à viola e atirando uma ou outra canção mais leve.
A todos vós, um grande abraço de quem vos tem no coração. E até sempre!

(Na fotografia de grupo, da esquerda para a direita: Manuel António e Lurdes, Américo e Olímpia, Joaquim e Glória)

quarta-feira, 31 de março de 2010

PAÇO DE SOUSA - FESTIVAL DA JUVENTUDE

O Festival da Juventude, levado a efeito naquele Julho de 1969, foi uma vivência marcante para todos quantos o tornámos uma admirável realidade.
Sem qualquer tipo de subsídios! - apenas a grande generosidade, a disponibilidade, o espírito fraterno que a todos nos animava, possibilitaram esse memorável feito!
Ali, entre o granítico silêncio do Mosteiro, os altíssimos plátanos debruçando seus ramos sobre o ribeiro onde apenas se moviam, indiferentes, os cisnes do Padre Arlindo...

Ali, sem rebeldia mas com muita determinação, fomos capazes de erguer no palco os nossos braços; de, nele, harmoniosamente, entusiasticamente, levantarmos A VOZ DE TODOS NÓS!
Foi belo e - nesse tempo... - muito corajoso da nossa parte. E de quem, enchendo por completo o recinto, nos aplaudiu e connosco confraternizou.
Como se, com a antecedência de 5 anos, estivéssemos anunciando o nosso consciente grito de Liberdade.

Aconteceu em Paço de Sousa, naquele Julho de 1969.
Geração interessantíssima aquela de que fizemos e fazemos parte!

Jograis


"Américo Tomás" e sua "Gertrudes",
convidados VIP



Grupo de jovens participantes
em foto para posteridade

terça-feira, 23 de março de 2010

CACHORRO-QUENTE


Freguês irregular de mesa incerta,
vario entre o café,
o rissol e a cerveja. Ultimamente,
num gesto de mão larga,
faço namoros ao cachorro-quente
e insisto na mostarda...

Raramente discuto os títulos da imprensa,
e às parangonas dos jornais, prefiro
certeiro como lança o atrevimento
da crónica que alcança
o tumulto da Praça e, breve mas com risco,
reduz toda a questão
das castas sociais à simples disjunção:
OU TREMOÇO
OU MARISCO!

Detesto ambiguidades: a gerência
reserva-se o direito de proibir
que pelas mesas se estenda a mão à caridade.
Louvo o princípio. Apenas: como há-de
matar a fome quem não vê
qual ministério ou qual instituição
chame a si o dever
de côbro pôr a tanta humilhação.

A Paula e o Rui ainda se trocam beijos
nos intervalos
do sonho e do estudo.
Silêncios de incerteza ameaçam cerceá-los
e vão dizendo já que os beijos não são tudo...
que qualquer solução
terá que ter em conta
trabalho e habitação.
Mas por muita pureza de intenções,
por muito apego
a normas sociais,
sem casa e sem emprego,
ninguém se escandalize
que o arrastar de amores apresse tentações
e vire... vire norma o que antes foi deslize.

E insisto na mostarda... a outra, a que me chega
ao nariz quando leio nos jornais
que cada português ao estrangeiro deve
dez mil euros ou mais...
A existir tal factura,
alguém falsificou a nossa assinatura...
Daqui lanço o alerta
à Procuradoria e aos Tribunais!

Na mesa ao lado, o jogo dos palpites
ao número da sorte continua...
Este país vai de mal a pior...
- Senhor Manuel, a conta, por favor,
que eu tenho pressa de sair para a rua!

(Publicado em 1982 e actualizado em Março de 2010 - Santos Kim)

sexta-feira, 12 de março de 2010

PRIMAVERA, DE PAÇO DE SOUSA AO SPM 1864


Entre capim e cajueiros, arrastava-se, sobressaltado e quente, o mês de Março de 1971, pelo nordeste moçambicano.

Macomia, Chai, Antadora, Largo do Oasse, não rimavam com Guisande, Paço de Sousa, Azurara, tão-pouco com Benguela...

De entre as cartas que, quase diariamente, me chegavam da Amadora ao SPM 1864, eis que uma me traz a descrição dos primeiros sinais da Primavera anunciados nas árvores, entre a avenida da Liberdade e a praça José Fontana, em Lisboa. E remata o anúncio da nova estação com a transcrição de um poema encontrado no bolso da camisa de um soldado japonês, tombado na II Guerra Mundial:



"Ó ameixeiras defronte da minha casa

eu não voltarei

mas não vos esqueçais

de tornar a florir na Primavera!"




Não foi preciso ler segunda vez para que perdurasse na minha memória, tão profundamente me tocou!

E acompanhou-me, até hoje.

Não sei se em memória do que vi e sofri, principalmente pelos que a meu lado tombaram e pelos que, desmembrados ou estropiados, sofreram pelos hospitais os horrores da guerra, plantei três ameixeiras, que são hoje árvores feitas.

Trato-as, delicadamente.

E são sempre das primeiras árvores a florir, (re)anunciando a Primavera. E sempre das primeiras a dar fruto.

Oh! como são frágeis e lindas as flores das ameixeiras!

Lembram-me o tempo em que, pequeno, na quinta do Gaiato de Paço de Sousa, nos intervalos da escola, as regava pela avenida de baixo.

Tive a sorte de, são e salvo, tornar a ver florir as ameixeiras, na Primavera.

A catorze dos que comigo partilharam a dureza da guerra, nem o capim lhes amorteceu a queda... A outros quarenta, um helicóptero os foi evacuando para Nampula, alguns não mais regressando...

Em memória dos que a meu lado tombaram e de quantos as guerras devoram, não mais tornando a ver florir as ameixeiras defronte de sua casa, vão todas as pétalas de todas as ameixeiras que o vento sopra e leva!



Quatro Lagoas, Março de 2010 - Santos Silva



segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O QUEIJO DO RABAÇAL

Hoje venho escrever sobre um queijo delicioso, que bem merece divulgação, como faço quando visito amigos e o levo como lembrança: o Queijo do Rabaçal.
O Queijo do Rabaçal é feito de leite de ovelha e de cabra. A Serra do Rabaçal dá-lhe o nome, por ser nas suas pastagens que os rebanhos se alimentam. Quando genuíno, distingue-se pelo travo especial que o tomilho (erva-de-Santa-Maria), abundante nesta serra, transmite ao leite.
O grande escritor Eça de Queirós, no romance A Cidade e as Serras, coloca o Queijo do Rabaçal no mesmo lote dos internacionalmente célebres Camemberts, Bries, Coulommiers...
Localmente, é produzido pelas queijeiras "A Flor da Serra", na Ramalheira, e "Licínia Neves", nas Cotas, aldeias pegadas a Quatro Lagoas.
Algumas pastoras produzem-no em casa, para consumo familiar e presentear as suas visitas, acompanhado com o vinho caseiro. E que o diga eu, tantas vezes mimado com deliciosos produtos, saídos das mãos desta gente simples, e que são o que de melhor tem Portugal, mas que o Terreiro do Paço, embriegado por uma urbanidade bacoca a rebentar pela cintura, teima em aniquilar...!
Curiosamente, a caminho das pastagens na serra, alguns rebanhos passam em frente à Casa das Eiras. Vista assim, bem merece a inclusão num Postal!

domingo, 10 de janeiro de 2010

NEVA EM QUATRO LAGOAS

Neva em Quadro Lagoas.
Como há cinco anos. Mas, hoje, mais suavemente.
AAlinhar à direitasim como cai, desaparece. Alguns flocos demoram-se ainda nas folhas e primeiras flores da cameleira, em frente à porta da sala.
Estou admirando, pela vidraça, quando o André, ao colo da mãe, vem à janela e grita para o lado de cá da rua: "Ó avô, avô, olha a neve!"
Sim, olho a neve! E como a neve tem mais encanto, anunciada pela vozita duma criança!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

DELINQUENCIA FINANCEIRA E CONTRAFACÇAO PARTIDÁRIA

O neoliberalismo económico, a delinquência financeira e o compadrio ou irresponsabilidade política colocaram este mundo globalizado à beira do abismo.
A especulação foi tomando dimensões nunca antes registadas e os Off-Shores (paraísos fiscais) foram proliferando e engordando com a conivência dos Poderes instituídos, ainda que altamente lesivos para a Humanidade.
Em Portugal, a banca tremeu. Mas foi sobretudo no BCP, no BPN e no BPP que a crise mais se fez sentir, mercê de uma gestão irresponsável e fraudulenta: altíssimos vencimentos, injustificados prémios, empréstimos a fundo perdido, rios de dinheiro a volatilizarem-se...
O Estado foi chamado a intervir. A Caixa Geral de Depósitos (em que uns tantos cuspiam, chegando mesmo a reclamar a sua privatização), tornou-se o meio de socorro, injectando nesses bancos vários milhares de milhões de euros. Dinheiro dos fiéis depositantes desta Instituição Bancária, que não foram atrás de anunciados juros tentadores... Porque, lá diz o Povo: "Quando a esmola é grande, o pobre descomfia"... ou "Quem tudo quer, tudo perde". Mas a ganância é cega! E cegou mesmo... Os que perderam o dinheiro e os que dele abusaram e o volatilizaram impunemente. Em alguns casos, a falência seria a consequência pedagógica para irresponsabilidade de uns e a ganância de outros, pois sabiam muito bem que, nessa roda, para alguns ganharem, há muita gente a perder. Assim como na Bolsa.
Entretanto, os Off-Shores continuam a proliferar e a engordar. Como se nada tivesse acontecido.
Continuam os administradores, os gestores, consultores (e mais uns quantos engravatados terminados em "ores") a delapidar os bancos, as seguradoras, as empresas públicas e privadas, o próprio Estado, num continuado abuso de confiança. Em escandalosos salários, injustificados prémios e imorais (multi)reformas, muitas delas mungidas por uma só mão em várias tetas da "Vaca" por que tomam o Estado - que respira dos impostos de todos nós!
Vemos já os novos VIPs - Vigaristas, Impostores e Parasitas exibirem-se por jantares e chãs de "caridade"; por palanques e tribunas. Gente que não mexe uma palha, não sabe de onde sai um ôvo, quanto custa um quilo de arroz carolino... Mas veste bem, com etiqueta estrangeira; e assim se passeia em revistas e programas televisivos inqualificáveis...
Tudo isto, em Portugal, se tornou novamente possível e é "modus vivendi"...
Onde referências? Onde exigência de ética?
Com uma ou outra excepção, temos uma classe política que não emerge naturalmente de um percurso universitário sério nem de uma vivência laboral profícua, desejando servir a Causa Pública com espírito de missão, mas sim como produto da "contrafacção" partidária. Medíocre, inculta, intelectualmente desonesta, mais propensa à trapaça do que à lisura, tenta assegurar pelo poder ou em seu redor, num curto espaço de tempo (e quantas vezes num simples golpe de asa...), o que pelo trabalho honesto jamais conseguiria. Confunde privilégios que despropositada e imoralmente se atribui com "direitos adquiridos" que, para sustentar, torna ainda mais penosa, incerta e quantas vezes infernal a vida dos que sempre - única e honradamente! - ganharam o pão com o suor do seu rosto
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Sobre esta matéria, já nos anos 40 do século passado escrevia Padre Américo:
(...) "a ordem social exige que todos quantos têm seus rendimentos se obriguem, em consciência, a gastá-los bem, com economia, na roda do ano: distribuir, auxiliar, consumir, dar aos que se não podem bastar. E este mínimo de coisas todos têm obrigação de compreender e de praticar. Porque é verdadeiramente criminoso todo aquele senhor que ao capital que rende vai juntar os juros desse mesmo capital.
Amarrar assim, de pés e mãos, o direito das classes pobres ao pão-nosso-de-cada-dia, é semear no seio deles: lágrimas, fome, miséria e, por fim, o desespero."
(...) "Dizem que o macaco fecha a mão e que não larga o que tem, a menos que lha cortem; e outrossim dizem que o homem descende do macaco!?
Bem podias repartir os teus anéis, em boa paz. Podias e devias; mas não queres; por isso ficarás sem eles e sem os dedos, em guerra."
(Padre Américo, - fundador da Obra da Rua, em Pão dos Pobres, 1.º Vol.)

sábado, 2 de janeiro de 2010

O MURO DE BERLIM E OUTROS MUROS...

A QUEDA DO MURO DE BERLIM

Na sequência da Segunda Guerra Mundial, os países vencedores, Estados Unidos da América, Inglaterra, França e União Soviética, repartiram entre si a Alemanha, dividindo assim um país, um Povo. Em 13 de Agosto de 1961, a RDA (República Democrática Alemã) inicia a construção do muro. Daí à divisão do Planeta em Mundo Ocidental e Mundo Oriental, foi um passo... Surgiu a NATO, a ocidente, e o PACTO DE VARSÓVIA, a leste. A política do terror, a Guerra Fria... Em Novembro de 1989, deu-se início ao derrube do Muro de Berlim. A Mickail Gorvachev, último presidente da União Soviético, e à sua política de reformas, em boa parte se deve este histórico acontecimento,a democratização dos países de Leste e a consequente desagregação da União Soviética. Cabe também aqui uma merecida referência a Sua Santidade o Papa João Paulo II, natural da Polónia, que exerceu um pontificado de abertura ao mundo e apelo aos valores cristãos e universais.

OUTROS MUROS
EUA / MÉXICO - 3140 Km; ISRAEL / CISJORDÂNIA - 721 Km
ÍNDIA / BANGLADESH - 3200 Km; PAQUISTÃO / AFEGANISTÃO - 2400 Km
IRÃO / PAQUISTÃO - 700 Km: IRÃO / CURDISTÃO - 450 Km
BOTSUANA / ZIMBABUÉ - 480 Km
GRANDE MURALHA SUBTERRÂNEA NA CHINA - 5000 Km
E O MURO ENTRE RICOS E POBRES...
O maior! Não se sabe onde começa nem onde acaba. Cobre todo o Planeta... Por todos os países. Passa à minha, à tua, à porta de toda a gente: Cidadão comum, Juízes, Bispos, Cardeais, Papas, Primeiros-Ministros, Presidentes, Reis! Sabe-o TODA A GENTE!
Em cada hora mata milhares de seres humanos. À fome. À falta de cuidados médicos. Ao frio. Ao calor. Espoliados pelos países ricos e saqueados pelos seus governantes. Sabem-no muito bem os Governos e todas as Instituições Internacionais.Este Muro é a maior vergonha de todos nós!